USP terá curso a distância sobre uso de animais de laboratório
O trabalho com animais, principalmente roedores, faz parte da rotina de pesquisa de diversas áreas, como medicina, biologia, veterinária e farmácia. Para capacitar técnicos e usuários ligados a esses estudos, um grupo da USP vai desenvolver em 2018 um curso a distância sobre a produção e manutenção de animais experimentais.
A proposta foi aprovada em dezembro pela Rede Nacional de Biotérios (REBIOTERIO) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que vai investir R$ 100 mil na iniciativa. “Há uma carência muito grande de pessoas com formação nessa área”, afirma a professora Patrícia Gama, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. Coordenadora do curso junto à professora Claudia Mori, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), ela explica que, em geral, esse tipo de treinamento é feito localmente, por meio de cursos e palestras, mas com limitações.
O ICB, por exemplo, realizou por alguns anos um treinamento presencial e, depois, organizou essas aulas em vídeo, disponibilizadas on-line – experiência que Patrícia acredita ter feito a diferença para a seleção na chamada do CNPq. Outras unidades da USP também manifestaram interesse em concorrer à proposta, então Patrícia reuniu todas e conseguiu criar uma ideia única, integrando mais de 40 pessoas, entre professores e funcionários.
Base teórica
O curso será dividido em seis módulos, cada um deles formado por pequenos blocos, com vídeos de 12 a 15 minutos. “As pessoas vão aprender desde a parte histórica, de legislação, mas também fisiologia do animal, os sinais que devem ser observados em um biotério, como deve ser a manutenção do ambiente, entre outros conteúdos”, conta Patrícia. Segundo a professora, o curso é teórico e a proposta é que ele sirva de base para que, em cada instituição, se faça um treinamento prático.
A pesquisadora destaca que esse conhecimento é relevante principalmente em dois aspectos: em relação ao bem-estar animal, já que o manejo correto envolve a preocupação com o sofrimento e busca alternativas a esse modelo, sempre que possível; e em relação à qualidade da pesquisa, pois a padronização de procedimentos e de cuidado com os animais rende resultados mais confiáveis.
Os vídeos serão gravados durante o primeiro semestre, com a participação de professores das diversas unidades da USP. “E como temos estudantes estrangeiros na Universidade que, às vezes, chegam a ter fluência na língua portuguesa, todas as aulas terão tradução para o inglês”, avisa Patrícia.
O curso é voltado a pessoas com vínculo formal com instituições de ensino e pesquisa de todo o País, cujo trabalho envolva experimentação animal, como estudantes de iniciação científica, pós-graduandos, professores, técnicos e auxiliares de laboratório. O conteúdo é focado em manipulação de roedores, como ratos e camundongos, e lagomorfos, que são uma ordem de pequenos mamíferos da qual fazem parte os coelhos.
Em um primeiro momento, o curso deverá ser oferecido em três edições, cada uma com 400 vagas. As avaliações ocorrem com testes de múltipla escolha. As informações sobre inscrições serão divulgadas posteriormente.
Biotérios
Patrícia coordena atualmente a Rede de Biotérios da USP, criada em 2012 pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Universidade com o intuito de produzir e distribuir de maneira racional animais com padrão de qualidade genética e sanitária. Segundo a professora, a iniciativa foi uma grande contribuição à pesquisa na USP. Ela informa que o próximo passo da rede, agora que os treinamentos estão em desenvolvimento, é melhorar também as condições de instalação dos biotérios.
Embora boa parte da pesquisa na área biológica envolva ratos e camundongos, o conceito de biotério envolve vários tipos de animais, tais como macacos, cachorros, moscas e peixes. A legislação no Brasil inclui normativas específicas para diferentes situações de experimentação animal, explica Patrícia Gama, o que nos coloca à frente de muitos outros países sem regulamentação. Segundo ela, o que falta é, justamente, o treinamento. “Algumas instituições têm, outras não. Então a tentativa do CNPq é de homogeneizar e alcançar um número maior de pessoas”, afirma.
Fonte Jornal da USP