Ministério da Saúde atende pedido da FVS-AM para reforço de imunização em nove comunidades do Rio Unini
Todos os moradores das nove comunidades do Rio Unini, no município de Barcelos, serão imunizados com vacina antirrábica humana. A medida foi autorizada pelo Ministério da Saúde (MS), por meio da nota técnica nº7-SEI/2017, em resposta à solicitação da Fundação de Vigilância do Estado do Amazonas (FVS-AM), que avaliou ser esta uma importante estratégia de prevenção.
A equipe do MS está no Amazonas trabalhando em conjunto com órgãos ligados à Secretaria de Estado de Saúde (SUSAM), na investigação dos casos de raiva humana registrados nessa região, onde moram 682 pessoas. A FVS-AM enviará, nesta terça-feira (5/12), mais 600 doses da vacina antirrábica humana para a Secretaria Municipal de Saúde de Barcelos (Semsa-Barcelos), totalizando 3.100 doses desde o início do surto na comunidade.
Segundo levantamento da Semsa-Barcelos, aproximadamente 270 pessoas informaram que foram agredidas por morcegos nos últimos 12 meses. Estas pessoas já tomaram três doses da vacina e devem receber a última dose até o dia 13 de dezembro, respeitando o período de intervalo estipulado entre elas. No entanto, para o caso específico de Barcelos, o MS concordou com a imunização também dos comunitários que não foram mordidos por morcegos. A vacinação para pessoas não agredidas será dividida em três doses.
“Frente à situação vivenciada naquelas comunidades, com dois casos confirmados de raiva humana, a FVS entrou em contato com a representação do Ministério da Saúde e discutiu a possibilidade de, excepcionalmente, ter uma mudança no que diz respeito à profilaxia, principalmente em função do local onde ocorrem os casos. A região é de difícil acesso para que o serviço de saúde faça a manutenção de insumos, como a aquisição da vacina e soro. Foi liberada excepcionalmente, através de nota técnica do MS, a vacinação para toda a comunidade localizada no Rio Unini, considerada população de risco. Os que foram agredidos por morcegos receberão a vacinação e o soro. Nos que não foram, será feita a vacinação pré-exposição. 100% da área deve sofrer cobertura, em função dessa situação inusitada que vem ocorrendo na calha do Rio Unini”, explicou o diretor-presidente da FVS-AM, Bernardino Albuquerque.
Reforço na vacinação – Além da imunização dos moradores do local, estão sendo reforçadas as ações de vacinação de animais domésticos, inclusive nas comunidades onde não há casos de agressão por morcegos. As ações de vacinação, humana ou animal, são municipalizadas, ou seja, são executadas pelas Secretarias Municipais de Saúde, que devem realizar anualmente, no máximo até o mês de novembro, as campanhas de imunização de cães e gatos em todas as comunidades de seu território. É delas também a responsabilidade de realizar o esquema de sorovacinação de profilaxia da raiva humana nas pessoas agredidas por animais.
A FVS-AM é responsável pelo abastecimento e manutenção dos estoques dos soros e vacinas, que são dispensados pelo PNI/FVS-AM, de acordo com os pedidos dos municípios. Este ano, o município de Barcelos foi atendido com quantidade suficiente de doses de vacina antirrábica para animais, vacina antirrábica para humanos e soro antirrábico, conforme solicitação. A FVS-AM, de forma rotineira, realiza treinamento para vacinares, para profissionais de saúde na profilaxia da raiva humana e para a coleta de amostras e controle dos morcegos hematófagos. Nas últimas semanas, quem esteve à frente da vacinação na Reserva Extrativista (Resex) do Rio Unini foram as secretarias municipais de Barcelos e Novo Airão.
Demandas – Até novembro de 2017, a FVS-AM distribuiu 634.311 doses de vacina antirrábica animal, 24.173 doses de vacina antirrábica humana e 1.042 doses de soro antirrábico, através de demanda das secretarias municipais de saúde. Ao longo do ano, apenas Manaus, Tabatinga e Boca do Acre solicitaram mais soro e vacina antirrábica à FVS. A atual gestão da Susam, por meio da FVS, tomou providências imediatas ao saber da situação em Barcelos e reforçou a distribuição no município.
As ações de monitoramento realizadas pela FVS-AM seguem em todos os 37 municípios que apresentaram ataques por morcegos, incluindo Barcelos, e continuam com o serviço de captura destes animais para análise de circulação viral. É importante ressaltar que somente animais doentes transmitem o vírus rábico. Caso a pessoa seja mordida por um morcego que não esteja doente, não há risco de contrair raiva humana. Os exames de morcegos coletados nos demais 36 municípios não apontaram nenhum tipo de infecção.
Estratégia de vigilância na Resex – De acordo com a FVS, foi reforçada a estratégia de vigilância realizada pela FVS, MS e Semsa-Barcelos nas comunidades da Resex do Rio Unini, onde ocorreram dois óbitos por raiva humana. Todas as pessoas mordidas por morcego na reserva, que é formada por nove comunidades, estão em observação e tendo imunização concluída. O acesso à região é apenas por barco e as distâncias percorridas de até 350 quilômetros tornam-se ainda mais difíceis no período da seca do rio Unini, com corredeiras e bancos de areia. Para esta ação os técnicos da FVS contam com apoio logístico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e a Reserva Extrativista Unini para desenvolver as atividades na região.
A equipe do Departamento de Vigilância Ambiental da FVS-AM retornou no dia 29/11 da zona rural de Barcelos, onde permaneceu durante 11 dias e irá retornar novamente nesta semana. A equipe é formada por médico veterinário, biólogo, técnicos de zoonose com vasta experiência na prevenção e controle de morcegos. Eles visitaram e realizaram trabalho de controle a surtos, nas nove comunidades localizadas na extensão de cem quilômetros do Rio Unini. “É uma região de difícil acesso, com trechos sinuosos de corredeira e bancos de areia. Só para se ter uma ideia, a distância até a última comunidade da reserva pode durar de 7 a 12 horas num barco de motor que navega a 50 Km por hora”, explica o chefe do Departamento de Vigilância Ambiental da FVS-AM, Cristiano Fernandes.
Barreiras – As equipes da FVS testaram o uso de mosquiteiros impregnados com inseticidas, usados no combate aos casos de malária. No entanto, foi registrado que os morcegos conseguem morder as pessoas mesmo com o uso dos mosquiteiros. Telar as janelas das casas, de acordo com a equipe técnica, também foi ineficiente, já que os morcegos entram nas casas por espaços no teto.
A medida mais eficaz, segundo a FVS-AM, tem sido o uso de pasta vampiricida, já que os animais tratados com a pasta retornam para a colônia e controlam a população dos animais doentes. Dentre as atividades desenvolvidas, foram capturados 31 morcegos hematófagos da espécie Desmodus rotundus, coletados em todas as comunidades que tiveram ocorrência de agressões por estes animais, no Rio Unini. “Sete exemplares de morcegos hematófagos foram encaminhados para pesquisa do vírus rábico, e os demais 24 foram tratados com pasta vampiricida e soltos para o controle das colônias, método indicado para a diminuição de ataques por estes animais”, explica Fernandes.
Fonte Secom AM