CFMV Entrevista – Médico veterinário Andrigo Barboza fala sobre o câncer em animais de companhia
16 de outubro de 2015
A área de oncologia veterinária passou por avanços consideráveis nos últimos anos. Com uma prevenção adequada, muitos casos de câncer em animais podem ser evitados ou tratados com maiores de chance de cura. A seguir, como parte das ações do Outubro Rosa, o CFMV entrevista o médico veterinário e professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Andrigo Barboza de Nardi. O profissional aborda as principais mudanças na área, desafios enfrentados e as principais dúvidas dos donos de animais sobre a doença.
Andrigo Barboza é doutor e pós-doutor em Cirurgia Veterinária, com ênfase na área de Oncologia. Também é coautor dos livros Quimioterapia Antineoplásica em Cães e Gatos (2008) e Oncologia em Cães e Gatos (2009). Atua com ênfase nos temas de neoplasia mamária, quimioterapia antineoplásica e uso de inibidores no tratamento do câncer. Confira a entrevista.
Ascom/CFMV – O que mudou nos últimos 20 anos na oncologia veterinária?
Andrigo Barboza Nardi – A Oncologia Veterinária evoluiu muito nos últimos 20 anos. Antigamente, câncer era sinônimo de eutanásia. Felizmente, nos dias atuais, a conduta é bem diferente, pois podemos utilizar vários meios para diagnosticar corretamente as neoplasias que ocorrem em cães e gatos e também dispomos de inúmeras modalidades de tratamento, contribuindo desta forma para melhorar o prognóstico dos animais de companhia que eventualmente venham a desenvolver a doença.
Ascom/CFMV – Quais os desafios enfrentados pelos profissionais que trabalham na área?
Andrigo Barboza Nardi – O principal desafio enfrentado pelos profissionais médicos veterinários que trabalham com oncologia ainda é conseguir estabelecer o diagnóstico precoce dos casos de câncer. Muitas vezes, os proprietários demoram para consultar o médico veterinário e quando trazem o paciente, a doença já se encontra em uma fase avançada. Assim, o ideal é que o proprietário procure o médico veterinário assim que ele perceba a ocorrência de qualquer anormalidade com o seu cão ou gato.
Além disso, é importante que o proprietário leve periodicamente seu animal para ser avaliado pelo médico veterinário pois, desta forma, é possível estabelecer precocemente o diagnóstico dos tumores e a chance da obtenção da cura com o tratamento correto é muito maior.
Ascom/CFMV – Qual a porcentagem da incidência de câncer de mama nas fêmeas de cães e gatos?
Andrigo Barboza Nardi – No Brasil, a incidência de casos de câncer de mama em cadelas é em torno de 40 a 45%, ou seja, a cada cem cães com algum tipo de neoplasia, aproximadamente 40 são cadelas com tumores de mama. Em gatas, esse valor é em torno de 30%.
Ascom/CFMV – Quais as alternativas para prevenção do câncer de mama?
Andrigo Barboza Nardi – Sabe-se, de forma clara, que a melhor forma de prevenção é a castração precoce. É recomendado que as fêmeas de cães e de gatos sejam castradas antes de um ano de idade, pois desta forma pode-se reduzir, de forma considerável, os casos de câncer de mama durante a idade adulta destes animais.
Ascom/CFMV – Quais são as orientações para o diagnóstico correto do câncer de mama?
Andrigo Barboza Nardi – O médico veterinário deve realizar todos os exames que são indicados para confirmar a presença das lesões em parênquima mamário, bem como pesquisar se existe ou não a presença de lesões metastáticas, podendo desta forma estabelecer a melhor conduta em relação ao tratamento.
Ascom/CFMV – O que existe de mais recente no tratamento do câncer de mama em animais?
Andrigo Barboza Nardi – Atualmente, o tratamento para a maioria dos casos de câncer de mama em cadelas e gatas é a cirurgia (mastectomia). Além disso, dependendo da malignidade da lesão, é recomendado o emprego de quimioterapia antineoplásica associada com a utilização dos inibidores de COX-2.
Ascom/CFMV – Quais as principais dúvidas sobre o câncer, inclusive de mama, apresentadas pelos donos de animais de estimação?
Andrigo Barboza Nardi – O que normalmente os proprietários perguntam é se é um tumor benigno ou maligno. No entanto, a forma mais precisa de responder essa questão é remover, por meio de cirurgia, a lesão, e encaminhar o tumor para exame histopatológico. Outra dúvida dos proprietários é se o câncer de mama pode promover a morte do seu animal de estimação. Isso pode ocorrer se o paciente não for corretamente tratado e se o câncer estiver em uma fase avançada de evolução.
Ascom/CFMV – Como devem se preparar os médicos veterinários brasileiros que decidem seguir na área de oncologia?
Andrigo Barboza Nardi – O médico veterinário deve sempre buscar a especialização nessa área, e atualmente já existem inúmeros cursos de especialização que proporcionam excelente nível de formação na área de oncologia. Além disso, o médico veterinário deve buscar participar de grupos de psicooncologia, pois desta forma estará mais preparado para trabalhar com a perdas e com todas as dificuldades que envolvem o tratamento de câncer nos animais de companhia.
CFMV