CFMV Entrevista: Médica veterinária Gleidice Lavalle fala sobre prevenção do câncer de mama em cadelas e gatas
14 de outubro de 2016
O câncer de mama é um dos tipos de neoplasia mais frequentes em animais, mas não pode ser encarado de forma generalizada. A médica veterinária Gleidice Lavalle explica que a doença atinge cada animal de forma diferente, e que, portanto, o tratamento deve ser definido individualmente.
Condição clínica, idade, qualidade de vida, e agressividade dos tumores são alguns dos fatores que devem ser levados em conta no enfrentamento ao câncer de mama. “A nossa prioridade sempre é a qualidade de vida. Se o paciente começa a ter comprometimento de qualidade de vida a gente faz a abordagem menos agressiva”, avalia Lavalle, responsável pelo serviço de oncologia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A médica veterinária também trabalha na organização da Campanha Nacional de Prevenção Contra o Câncer de Mama em Animais de Companhia que conta com o apoio do Conselho Federal de Medicina Veterinária para, no mês do Outubro Rosa, divulgar informações com o objetivo de ajudar os proprietários a diagnosticar, enfrentar e prevenir a doença em cadelas e gatas.
Em entrevista à Assessoria de Comunicação do CFMV, Gleidice Lavalle fala sobre como a evolução da oncologia veterinária oferece novas opções para os animais acometidos pelo câncer de mama, e sobre os cuidados exigidos pela doença.
Ascom/CFMV – Qual é o objetivo da campanha do Outubro Rosa?
Gleidice Lavalle – É tentar conscientizar os tutores das cadelas e das gatas em relação à frequência das neoplasias mamárias nos animais e também estimulá-los a fazer a apalpação da região das glândulas mamárias. Qualquer detecção de lesão, mesmo pequena, eles já devem procurar o atendimento de um médico veterinário. Quanto antes a gente iniciar o tratamento com o paciente, maior chance de sucesso.
Ascom/CFMV – Esse é um problema muito comum? Qual é a incidência dele?
Gleidice Lavalle – A incidência da neoplasia mamária em cadelas é extremamente alta. É o tumor mais frequente nas fêmeas. Nas gatas a incidência é menor. Mas o comportamento biológico das lesões nas mamas das gatas é muito mais agressivo do que nas cadelas. Apesar dessa menor incidência nas gatas, a doença é extremamente preocupante.
Ascom/CFMV – A Sra. percebe se há uma consciência dos proprietários a respeito desse problema?
Gleidice Lavalle – Notamos que ainda há muito trabalho para ser feito nesse sentido de conscientização, que é exatamente o objetivo da nossa campanha. Mas eu, por exemplo, que atuo na área de clínica – dez anos somente na área de oncologia – , noto que isso tem mudado. Hoje os proprietários têm mais consciência da importância de procurar o médico veterinário, de que tem de ser precoce o diagnóstico. Mas temos muito trabalho para ser feito ainda.
Ascom/CFMV – Quais são as causas dessa doença? Que animais correm mais risco de desenvolver tumores nas mamas?
Gleidice Lavalle – Os processos neoplásicos são mais frequentes nos pacientes veterinários mais idosos. Poucos são os processos neoplásicos frequentes em animais jovens. A partir de seis ou sete anos de idade aumenta a incidência. A carcinogênese das neoplasias mamárias está muito relacionada com a parte hormonal. Isso é muito semelhante ao que a gente vê na mulher. Existe uma relação hormonal que leva os animais a desenvolver os tumores de mama. Mas o câncer é uma doença multifatorial.
Ascom/CFMV – Esse processo hormonal é mais comum nas cadelas e gatas que não foram castradas, por exemplo?
Gleidice Lavalle – A relação da castração está relacionada com a prevenção, que é o que a gente está reforçando na campanha, mas somente em animais em que o procedimento é feito precocemente. Entre o primeiro e o segundo cio é o que a gente preconiza como idade ideal para a castração quando se pensa em prevenção. Mas a relação entre a gestação e a não-ocorrência de neoplasia mamária na cadela não é estabelecida como o que ocorre na mulher. A cadela quando fica gestante e amamenta, vai manter o intervalo de seu ciclo estral da mesma forma que se não tivesse tido esta gestação ou amamentação. São 60 dias de gestação e 30 de amamentação, somados a mais 90 dias sem influência de estrógeno. Ela ira ciclar na mesma época com ou sem a gestação, mantendo os intervalos de 6 meses. Ou seja, não ocorre diminuição na exposição hormonal, que é o que ocorre na mulher que durante os 9 meses de gestação e durante a amamentação não se expõe ao estrógeno.
Ascom/CFMV – Como é realizado o diagnóstico?
Gleidice Lavalle – A mama da cadela e da gata é muito exposta visualmente, e o proprietário pode enxergar e também apalpar com facilidade. Então a gente orienta os proprietários a terem o hábito de passar a mão nas cadeias mamárias para ver se tem alguma alteração, algum crescimento anormal. Feito isso, o proprietário tem de procurar o médico veterinário de confiança dele, e o médico veterinário vai fazer a avaliação clínica do nódulo. Existem algumas alterações macroscópicas que a gente observa no tumor com relação ao tamanho, se existe aderência à pele, à musculatura, se existe processo inflamatório. Esses são fatores muito bem estabelecidos na literatura para a situação de prognóstico. Baseado nessas observações clínicas, o médico veterinário inicia a programação do procedimento cirúrgico da paciente, e a realização de exames de imagem para começar a definir o estadiamento desta doença clinicamente.
Ascom/CFMV – É possível garantir a qualidade de vida do animal tratado do câncer de mama?
Gleidice Lavalle – Existe um grande tabu com relação à quimioterapia em animais de estimação. Os proprietários às vezes ficam muito inseguros e com uma impressão negativa, porque eles têm a tendência de associar o tratamento com a situação de alguma pessoa na família. Mas é totalmente diferente a abordagem na veterinária. Os médicos veterinários priorizam a qualidade de vida, e os animais, tanto o cão quanto o gato, têm mais resistência aos efeitos colaterais de vômito e diarreia do que o paciente humano, então a incidência é menor. Mas isso é individual também, alguns animais sentem mais, e outros sentem menos. Mas a nossa prioridade sempre é a qualidade de vida. Se o paciente começa a ter comprometimento de qualidade de vida a gente faz a abordagem menos agressiva. Cada caso tem de ser avaliado individualmente.
Ascom/CFMV – Antigamente existia uma cultura de não tratar o câncer em animais. Hoje os proprietários e médicos veterinários pensam diferente?
Gleidice Lavalle – A oncologia na veterinária é uma especialidade em fase de ascensão. Hoje os proprietários querem investir mais no seu animal de estimação, pois o animal existe numa forma diferente dentro do perfil de família. E o médico veterinário também está mais qualificado para poder oferecer a esse paciente uma melhor abordagem, uma boa qualidade de vida. E prolongar a vida desse animal sempre com uma qualidade de vida satisfatória. Hoje isso é mais exigido pelo proprietário e a gente tem a condição de oferecer uma melhor abordagem.
Saiba mais:
Confira aqui a lista de alguns locais que estão participando da campanha
Baixe aqui o folder da campanha, elaborado pelo LPC/UFMG
Outubro Rosa: Campanha alerta sobre prevenção de câncer de mama em animais
Durante Outubro Rosa, lembre a importância da prevenção do câncer de mama em animais
Assessoria de Comunicação do CFMV