CFMV e CRMV-PR promovem colaboração multissetorial na saúde única
O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR) e a Comissão de Saúde Única do Paraná (CESU-PR) realizaram nesta quarta-feira (9), em Curitiba, o I Simpósio Internacional de Saúde Única. No encontro, profissionais das agências da Organização das Nações Unidas (ONU) voltadas à saúde humana e animal, além de entidades públicas e particulares, compartilharam as experiências de grandes polos mundiais na criação e aplicação de políticas públicas para combater a resistência aos antimicrobianos.
“Nossa missão é trazer saúde aos animais, consequentemente, garantindo a saúde da sociedade e preservando o meio ambiente. A cidade de Curitiba e o estado do Paraná se transformaram no foco da saúde única e fazem frente a essa missão tão importante”, destacou Francisco Cavalcanti de Almeida, presidente do CFMV, durante a abertura. Almeida garantiu os esforços do Sistema CFMV/CRMVs na busca de soluções para o problema.
O presidente Rodrigo Távora Mira, do CRMV-PR, ressaltou a importância do evento, escolhido como a grande contribuição técnica do regional aos profissionais e à sociedade no ano do cinquentenário da Lei nº 5517. “Há dois anos trabalhamos fortemente na saúde única porque ela abrange todos os pilares da Medicina Veterinária. Nós, como gestão, assumimos esse compromisso e desafio”, disse.
O evento internacional foi realizado pela primeira vez, mas na versão regional esta foi a terceira edição. “Hoje podemos afirmar que estamos no caminho certo, pois foi aprovada, na 16ª Conferência Nacional de Saúde, a incorporação do conceito de saúde única nas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Isso é sensacional”, comemorou Cláudia Pimpão, presidente da CESU-PR e organizadora dos eventos.
Para oficializar a cooperação multissetorial no combate à resistência antimicrobiana, as entidades presentes assinaram uma carta de intenções para a criação, no Paraná, da Aliança Interinstitucional em Saúde Única. Assinaram o termo o Conselho Federal de Medicina Veterinária; o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná; a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná; a Secretaria de Estado da Saúde; a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável e Turismo; e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Antibióticos na agropecuária
Ao ministrar a palestra magna do Simpósio, o professor Javier Burchard chamou a atenção de todos ao expor números impressionantes da aplicação de antibióticos no mundo. Segundo dados de pesquisas recentes apresentados, o uso de antibióticos em animais representa 70% do total utilizado nos Estados Unidos e no Reino Unido. A maior parte, destaca, na pecuária. De acordo com o professor, “os antibióticos são utilizados na alimentação para compensar medidas ruins de manejo sanitário, manejo nutricional e de controle de biosseguridade”.
No entanto, o mais assustador são os dados brasileiros: inexistentes. No Brasil, não há pesquisas que demonstrem a utilização de antibióticos em animais. “Sem essa informação é impossível estabelecer políticas adequadas para encaminhar soluções técnicas ao problema”, disse. Para isso, a Comissão de Saúde Única do CRMV-PR, diz o professor, tem trabalhado na realização de seminários e grupos de trabalho para descobrir qual é o cenário atual do Paraná e do Brasil e assim direcionar as ações.
Nações Unidas
Representantes de agências especializadas das Nações Unidas (ONU) estrearam os debates do Simpósio contando os esforços multissetoriais no combate à resistência aos antimicrobianos. A médica-veterinária brasileira Simone Raszl, do Centro Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa) da Organização Panamericana da Saúde (OPS/OMS), mostrou como a aliança tripartite com a Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE) e com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) vem trabalhando para alcançar os objetivos de saúde única, melhorar a segurança dos alimentos e como isso tem impactado o desenvolvimento econômico dos países e as questões de saúde pública em geral.
Como representante da OIE, Martín Minassian esteve no simpósio com interesse nas ações que estão desenvolvendo no Brasil e para colaborar e trocar experiências sobre o combate à resistência antimicrobiana. Já Rafael Zavala, da FAO, afirmou: “Os veterinários no Brasil têm dois grandes desafios: produzir alimentos saudáveis e em sistemas sustentáveis”.
Economia comportamental
No segundo módulo do simpósio, o economista Luiz Maia, professor do mestrado profissional de saúde única da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), compartilhou sua experiência de como a economia comportamental pode contribuir com o avanço da saúde única em três aspectos. O primeiro, disse, é que nos acostumamos a lidar com o que ele chama de problemas “danados”, conhecidos na literatura internacional como “wicked problems”. “Eles demandam um aprendizado para encarar questões que realmente são difíceis e complexas e, quando tentamos uma solução, o resultado é imprevisível”, explicou.
Outro fator é que é possível melhorar muito a eficácia das políticas públicas quando se desenha, pressupõe e planeja o comportamento das pessoas. Por fim, Maia afirmou que “todos nós precisamos compreender um pouco de aprendizagem social e como desenvolvemos comportamentos socialmente, o que vai acabar trazendo uma abordagem mais rica para a saúde única”, concluiu.
Comunicação científica
A médica-veterinária Kristen Obbink, do Instituto Nacional de Educação e Pesquisa em Resistência aos Antimicrobianos dos Estados Unidos, falou sobre a necessidade de simplificar a comunicação e, com isso, facilitar e ampliar a divulgação sobre a saúde única.
Na opinião da especialista, os médicos-veterinários podem se valer de três dicas práticas na hora de divulgar suas pesquisas ou trabalhos científicos. “Evitem jargões e termos técnicos que não são usuais para quem não é da área; usem analogias e metáforas para se aproximar da realidade do cidadão; e humanizem, contem histórias de pessoas, usem exemplos que ajudem a entender de forma clara como o estudo que estão fazendo impacta a vida da população”, recomendou.
Arboviroses
Para fechar o primeiro dia de simpósio, especialistas falaram sobre zoonoses, doenças (re)emergentes e arboviroses. O francês Ludovic Plee, da FAO, compartilhou sua experiência em emergências globais em saúde animal.
Lilian Silva Catenacci, professora da Universidade Federal do Piauí, apresentou um panorama de alerta sobre as arboviroses e impactos em comunidades.
No encerramento, a médica-veterinária brasileira Christina Pettan Brewer, que hoje é professora da Universidade de Washington e presidente da One Health Brazil Latin America, associação oficial da World Veterinary Association (WVA), falou sobre doenças infecciosas emergentes e negligenciadas, destacando a importância da prevenção delas, por meio da saúde única, não só no Brasil, mas para a saúde global. “Esse evento é um momento histórico, pois reúne especialistas em saúde única de vários estados brasileiros para firmar parcerias, colaborações, criar novos métodos, melhorar políticas públicas e ampliar a interação interdisciplinar com outras profissões”, comentou.
Assessorias de Comunicação do CFMV e do CRMV-PR