Com o objetivo de promover o desenvolvimento técnico, cultural, social e econômico do país no ramo da Medicina Veterinária, a Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária (SBMV) chegou ao seu centenário no dia 9 de junho. Com um live realizada pelo YouTube, a entidade comemorou seu primeiro século de atividades debatendo sua importância para a sociedade.
O secretário-geral do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Helio Blume, participou do evento virtual, juntamente com o presidente da SBMV, Luiz Carlos Rodrigues Cecílio, e outras autoridades que atuam pelo desenvolvimento da Medicina Veterinária, como a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Teresa Cristina; e o senador da República e médico-veterinário, Wellington Fagundes.
“Saudamos a importância dessa data, agrademos a oportunidade de participar, sempre destacando a nossa a preocupação de continuar desenvolvendo políticas e ações que enalteçam a nobreza da nossa profissão, trabalhando para que a Medicina Veterinária seja cada vez mais conhecida pela sociedade”, celebrou Blume.
Com o enfretamento da pandemia de covid-19, o secretário-geral do CFMV destacou que os médicos-veterinários são profissionais conscientes da responsabilidade que têm, especialmente nos momentos de crise. “Temos colegas espalhados pelo mundo capitaneando pesquisas em laboratórios para produção de vacina”, destacou Blume. “Vamos continuar trabalhando para que o país atinja seus objetivos, apoiando o agronegócio, com a certeza de que essa será a atividade que irá estabilizar esse momento tão delicado”, disse.
Centenário
Como anfitrião do encontro on-line, antes de falar sobre os feitos da Sociedade, Cecílio fez uma saudação ao médico-veterinário Milton Thiago de Mello, hoje com 104 anos, pela longa trajetória profissional e seus 80 anos de contribuição à área, formado pela primeira turma da Escola de Medicina Veterinária do Exército.
Das vitórias, Cecílio destacou a realização do primeiro Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, em 1922, como parte das comemorações do centenário da independência do Brasil. “A partir daí, outros 43 congressos se seguiram, constituindo-se como grande fórum de debate, com eclosão de ideias, que foram transformadas em importantes conquistas”, disse.
O presidente da Sociedade também salientou a primeira regulamentação da profissão com o Decreto 23.133, em 1933; a criação do Sistema CFMV/CRMVs em 1968 com a Lei 5.517; e o primeiro código de ética da profissão.
“Agora estamos celebrando uma trajetória secular, na qual contabilizamos importantes cometimentos. Em todas as grandes conquistas da profissão no país a marca Sociedade é certamente encontrada. Registramos uma escalada de cem anos e suas sensíveis vitórias”, afirmou o presidente da SBMV
Participação
A ministra Tereza Cristina comemorou a data especial, ressaltando que esse centenário é para poucas profissões. “Os médicos-veterinários brasileiros contribuíram e muito para o desenvolvimento da nossa pecuária nacional. Agradeço por fazerem tanto pelo nosso país”, reconheceu.
Completar cem anos é algo de extrema relevância, considerou o senador Fagundes. “Estamos buscando um caminho de fortalecer cada vez mais a nossa nobre profissão, por meio dessa entidade que tem parte fundamental no conjunto da Saúde Pública, e também a sua reconhecida atuação como instrumento de união dos médicos-veterinários, estabelecendo o elo central do inter-relacionamento das entidades de Medicina Veterinária do país, ajudando a promover a necessária integração das nossas estruturas”, disse o senador.
A live foi coordenada pelo presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária (ABMV), Josélio Andrade Moura, que destacou o trabalho da vigilância agropecuária, tanto na parte veterinária, como na econômica. “É um trabalho de extrema importância, pois é a primeira barreira para entrada de enfermidades. O Brasil hoje tem sua estabilidade nessa área graças ação da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa”, destacou
Participaram também da live do centenário da SBMV, o médico-veterinário titular da ABMV e ex-presidente da SBMV, René Dubois; o presidente da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa Brasil), Saliem Sayeg; o secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, José Guilherme Leal; o diretor de Departamento de Saúde Animal do Mapa, Geraldo Marcos de Moraes; e a diretoria do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Mapa, Ana Lúcia Viana.
O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado da Paraíba (CRMV/PB) encaminhou ofício à Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (SEDAP-PB), recomendando a prorrogação da campanha de vacinação contra a febre aftosa no Estado.
Durante a 243ᵃ Sessão Plenária Ordinária, realizada em 28 de maio de 2020, foi decidido solicitar, de forma excepcional, prorrogar a aquisição de vacina contra a febre aftosa em todas as regiões do Estado, até o dia 15 de julho de 2020 e a comprovação da aplicação da vacinação até 15 de agosto de 2020.
O Conselho entende que tais recomendações se baseiam em evitar a aglomeração de pessoas durante o período de isolamento social, nas dificuldades de locomoção ocasionadas pela legislação vigente dos governos estadual e municipal, bem como a importância de priorizar a saúde e a segurança dos profissionais Médicos Veterinários e Zootecnistas, envolvidos na campanha.
No dia 7 de junho de 2020 é celebrada a segunda campanha “Segurança dos Alimentos, responsabilidade de todos”, realizada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e a Organização Mundial de Saúde (OMS).
O material explica, ainda: “Em um mundo em que a cadeia de suprimento de alimentos se tornou mais complexa, qualquer incidente adverso à segurança de alimentos pode ter efeitos negativos globais, um impacto negativo na saúde pública, no comércio e na economia. Todo o mundo tem um papel a desempenhar, do campo à mesa, para garantir que os alimentos que consumimos sejam seguros e não causem danos à nossa saúde. Os alimentos inócuos são fundamentais para a promoção de saúde e da erradicação da fome, dois dos 17 Objetivos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ODS). Este dia internacional é uma oportunidade para fortalecer os esforços para reduzir o risco de doenças transmitidas por alimentos e garantir que os alimentos que ingerimos sejam seguros.”
Evento
A Opas/OMS transmite, ao vivo, no dia 8 de junho (segunda-feira), às 13h, um seminário sobre Mercados de Alimentos Seguros. O objetivo é celebrar a data e reconhecer o trabalho de pessoas que atuam em toda a cadeia de produção de alimentos, tais como médicos-veterinários, zootecnistas, agricultores, transportadores, varejistas, compradores, vendedores e consumidores. Serão homenageados, especialmente, todos os atores da cadeia de produção de alimentos por continuarem ativos mesmo em situações de crise, como na atual emergência da covid-19, e reconhecer sua dedicação em garantir um fornecimento contínuo e seguro dos alimentos.
A organização enfatiza “a importância dos mercados tradicionais de alimentos, que desempenham um papel essencial, como a principal fonte de alimentos frescos e acessíveis para diversos grupos de baixa renda e uma importante fonte de subsistência para milhões de habitantes urbanos e rurais na região das Américas. Os mercados tradicionais são o coração da atividade econômica de muitos municípios, são essenciais para a segurança alimentar, porém estão propensos a riscos e foram identificados como fonte potencial de vários surtos de doenças transmitidas de animais vivos para seres humanos, como SARS, gripe aviária e, mais recentemente, SARS-CoV-2 (covid-19). É por isso que, durante esse dia, compartilharemos experiências sobre como garantir a continuidade das operações e melhorar a segurança dos alimentos nos mercados tradicionais.”
Acesse o link para ter acesso à notícia na íntegra, fazer inscrição e participar do evento, que será transmitido em espanhol. A hashtag #inocuidaalimentaria identificará nas redes sociais as atividades e postagens relacionadas à data.
No dia 07 de junho, às 16 horas, oConselho Regional de Medicina Veterinária do Piauí (CRMV-PI), promove um detabe no You Yube com o tema “Sistema de Gestão Integrado do Campo à Mesa para a Segurança dos Alimentos”. Com as participações de José Maria dos Santos Filho, presidente da Comissão Nacional de Tecnologia e Higiene Alimentar do CFMV ( CONTHA), Lidiana de Siqueira Nunes Ramos, presidente da Comissão Regional de Higiene, Inspeção e Tecnologia de Alimentos do CRMV-PI, e Isabelle Campello, presidente da Comissão de Estadual de Alimentos do CRMV-RJ,
O Dia Mundial do Meio Ambiente é comemorado anualmente, em 5 de junho, por coincidir com a data de realização da Conferência de Estocolmo, em 1972. Na ocasião, teve início uma mudança no modo de se ver e tratar as questões ambientais ao redor do mundo, além de serem estabelecidos princípios para orientar a política ambiental do planeta.
A professora-doutora e médica-veterinária Elma Pereira dos Santos Polegato faz um alerta. “São muitos os problemas que afetam o meio ambiente. A atual Agenda Ambiental Mundial estabelece até 2030 para que os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sejam alcançados por meio do cumprimento das 169 metas elaboradas e pactuadas pelos estados-membros das Nações Unidas. Ocorre que já é o quinto aniversário da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, mas ainda não há dados suficientes para rastrear a dimensão ambiental dos ODS, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma)”, afirma.
Polegato registra também que “o ponto-chave é que não se pode mais ignorar que o ser humano já vem sofrendo as consequências de todas as destruições ambientais, como aquecimento global, enchentes, secas, tsunamis, poluição, desmatamento, incêndios florestais, extinção de espécies, doenças emergentes e reemergentes, dentre outras cometidas por ele em nome do ‘desenvolvimento’”, defende.
A médica-veterinária comenta que, no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o ano de 2020 é considerado decisivo para a biodiversidade e as emergências climáticas, em que os principais encontros internacionais definiriam o tom e a agenda da ação ambiental para a próxima década. “Entretanto, tais definições ficaram comprometidas por mais um alarme que a Natureza enviou à humanidade, com a ocorrência, num curto espaço de tempo, da pandemia da covid-19 que o planeta enfrenta”, comenta Polegato.
No entanto, ela destaca que não foi a Natureza que criou o monstro do novo coronavírus e, sim, a falta de respeito com ela, a partir do uso insustentável dos recursos naturais, a destruição da vida selvagem e a crise climática desencadeada pelas atividades humanas. “Vários alertas foram emitidos. Como exemplos recentes, temos o ebola, a gripe aviária, a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), o vírus Nipah, a febre do Vale Rift, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), a febre do Nilo Ocidental e o zika vírus, todos passados de animais para seres humanos, e, agora, o coronavírus. O comportamento humano faz com que essas doenças se espalhem para os seres humanos, na maioria das vezes”, detalha a médica-veterinária.
Para Polegato, esses eventos se devem ao fato de a humanidade ter sobrecarregado os sistemas naturais necessários para sua subsistência, cujas sérias consequências explicam, na prática, a atual crise ambiental, marcada pela perda de biodiversidade e de habitat, pelo aquecimento global e pela poluição tóxica, principalmente. “Ecossistemas, para existirem, abrigam grande diversidade de vida e, atualmente, há perda contínua desses espaços naturais, aproximando o homem demasiadamente de animais e plantas que abrigam doenças e, por vezes, acelerando a transmissão de patógenos para os seres humanos. É comprovado que 75% das doenças infecciosas emergentes têm origem na vida selvagem”, assinala.
Essa situação se agrava, explica a professora Polegato, com as mudanças climáticas e seus efeitos, que têm levado a inundações, desertificação, ciclones, tsunamis, queimadas e outros desastres naturais ligados ao aumento da temperatura no planeta. “Tais ocorrências favorecem o aumento de vetores e patógenos, os quais são formas de vida que mais facilmente se adaptam a essas mudanças, elevando também a possibilidade de se adequarem a novos hospedeiros, inclusive o homem”, diz.
Nesse aspecto, a urbanização também influencia a ocorrência de doenças de maneira peculiar, assinala a médica-veterinária. “Sistemas de drenagem e eliminação de resíduos inadequados fornecem condições para vetores de artrópodes, roedores e aves transmitirem patógenos. A alta densidade populacional em assentamentos periurbanos é outro fator crítico para esse contato, promovendo a disseminação de patologias infecciosas”, pontua Polegato.
A médica-veterinária também ressalta que, em termos de patologias, a biodiversidade é essencial para preservar a saúde de pessoas, animais e meio ambiente, pois a conservação da biodiversidade reduz o risco geral de transmissão de patógenos, por meio de algo conhecido como efeito de diluição. “Isso ocorre porque, em uma população de hospedeiros mistos, alguns seriam hospedeiros ‘sem saída’, não permitindo a ocorrência de infecções. Por isso, conservar a biodiversidade é uma maneira de mitigar a propagação de doenças”, destaca.
A relação da natureza interconectada de toda a vida na Terra poderia gerar “um ambicioso marco pós-2020 de biodiversidade, mas para que ele aconteça é necessário o esforço e comprometimento de cada um de nós”, afirma. “Geralmente, o ser humano se exclui do meio ambiente, mas é dele parte integrante, pois faz parte da diversidade biólogica existente e tão necessária, sendo que todas as ações humanas, sejam elas profissionais ou da vida cotidiana, repercutem no meio ambiente”, defende Polegato.
Ela registra que Medicina Veterinária e Zootecnia são profissões que devem ser inseridas e aliadas à busca da sinergia entre homem, natureza e animais, com responsabilidade sobre a sustentabilidade dos recursos naturais. “Sua atuação não deve ser descolada da sociedade em que se insere e dos recursos sobre os quais tem impacto”, diz.
Para Polegato, a contribuição da ciência veterinária para o planeta é bem-vista na pesquisa biomédica, nos programas estratégicos de proteção à saúde animal e à saúde pública, bem como nas políticas de biossegurança alimentar, que visam aumentar a oferta e a qualidade dos alimentos de origem animal. “Portanto, encontra-se numa posição única em relação ao bem-estar coletivo, pois prepara o médico-veterinário para contribuir na luta contra as duas maiores catástrofes da humanidade: a fome e a doença”, ressalta.
“Neste sentido, os profissionais da Medicina Veterinária e da Zootecnia devem refletir quanto aos compromissos profissionais assumidos, em especial, o compromisso socioambiental e sanitário e, assim, ampliar sua atuação buscando tecnologias limpas, gerenciamento e manejo correto de resíduos médicos e químicos perigosos, usar de maneira racional os recursos naturais, preservando e evitando sua contaminação e, dessa maneira, mitigar os impactos com alterações climáticas e perda da biodiversidade, dentre outros”, afirma a médica-veterinária.
Fica claro, portanto, que os seres humanos dependem, para sua própria sobrevivência, de ecossistemas estáveis ??e saudáveis, e que são necessárias ações urgentes para colocar o mundo no caminho de um futuro mais sustentável. “Falhar em agir é falhar com a humanidade e não cuidar do planeta significa não cuidar de nós mesmos. Para nos proteger das futuras ameaças globais, as soluções baseadas na preservação da Natureza oferecem a melhor maneira de alcançar o bem-estar humano, enfrentar as mudanças climáticas e proteger o planeta. As intervenções devem ser implementadas com a colaboração de várias agências inseridas no âmbito da saúde única, para que oportunidades e mudanças significativas aconteçam, mudem o cenário ambiental atual de degradação e os ODS sejam alcançados”, diz Polegato.
No Dia Mundial do Meio Ambiente, o CFMV reforça o compromisso de incentivar e orientar seus profissionais a exercer a Medicina Veterinária e a Zootecnia com o menor impacto ambiental possível, promovendo a saúde e o bem-estar único dos animais e da sociedade.
Fontes:
– Prof.ª Dra. Elma Pereira dos Santos Polegato é médica-veterinária com graduação em Administração de Empresas, mestrado em Vigilância Sanitária e doutora em Medicina Veterinária. Foi membro da Comissão Nacional de Meio Ambiente do CFMV e, atualmente, é presidente da Comissão de Saúde Ambiental do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo e ocupa a cadeira n. 20 da Academia Paulista de Medicina Veterinária-APAMVET
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Desde que foram relatados os primeiros casos de humanos com covid-19, na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China, em dezembro de 2019, pesquisadores e órgãos internacionais de saúde investigam a origem da transmissão da doença. Logo que surgiram os primeiros casos, a suspeita divulgada foi de que a contaminação estaria associada à venda de animais silvestres para o consumo humano no mercado chinês de frutos do mar da cidade chinesa.
No entanto, segundo o médico-veterinário Ricardo Dias, professor do Laboratório de Epidemiologia e Bioestatística, da Faculdade de Medicina de Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), os primeiros casos de covid-19 não foram de pessoas com histórico de contato no mercado de Wuhan. “Uma teoria alternativa, proposta pela comunidade científica, é a de que tenha havido a transmissão zoonótica em outro local. Quando alguns infectados foram ao mercado, aí, sim, transmitiram para mais pessoas, espalhando a doença pela cidade”, explica.
Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, sigla em inglês), até o momento, a fonte ou a rota original de transmissão ao ser humano não é conhecida com exatidão. As pesquisas, entretanto, sugerem que, de acordo com os dados da sequência genética do novo coronavírus (SARS-CoV-2), ele poderia ter emergido de uma fonte animal e seria um parente próximo de outros coronavírus encontrados em populações do morcego-ferradura (Rhinolophus affinis).
Numa série de sete vídeos disponíveis no YouTube, Dias, que é doutor em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses, fala sobre o genoma dos diferentes coronavírus existentes e como está sendo para a ciência o enfretamento desse novo tipo. Assista:
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De acordo com nota produzida pelos integrantes da Comissão Nacional de Animais Selvagens, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNAS/CFMV), os estudos genéticos revelaram que os morcegos hospedam um tipo de vírus muito semelhante ao SARS CoV-2, que possivelmente infectou uma outra espécie animal, dando origem a uma recombinação genética que resultou no vírus responsável pela pandemia. No entanto, a comissão destaca que a identidade de qualquer hospedeiro intermediário que possa ter facilitado a transmissão para humanos ainda não foi comprovada, assim como a sua forma de transmissão.
Para a CNAS, a transmissão animal-humano da covid-19 ainda precisa ser mais bem estudada. “Mas o pangolim (Manis sp.) vem sendo apontado como um possível hospedeiro intermediário do vírus, porém, ainda sem consenso entre os pesquisadores”, pondera a nota da comissão.
A médica-veterinária Hilari Hidasi, presidente da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (Abravas), reforça que ainda está sob investigação o surgimento desse novo coronavírus. Ela esclarece que as “pesquisas mostraram que o coronavírus encontrado em morcego tem 96% de similaridade com o SARS-CoV-2, porém, a proteína S, que constitui o receptor pelo qual o SARS-CoV-2 se liga nas células do homem, é diferente nesse vírus encontrado no morcego”. Ela acrescenta: “É importante dizer que essa espécie de morcego (R. affinis), na qual se detectou o vírus, é endêmica da China e estava em período de hibernação na época de aparecimento”.
Sobre a origem da transmissão, Hidasi concorda com a CNAS e diz que a suspeita é de que o coronavírus do morcego teria sido transmitido primeiro ao pangolim (Manis javanica), pois o R. affinis não estaria presente no mercado chinês durante a investigação. Já o pangolim teria sido encontrado no local, fruto de importação ilegal, e nessa espécie teriam identificado um coronavírus com a proteína S similar ao do SARS-CoV-2.
“Porém, o SARS-CoV-2 ainda tem um sítio de clivagem polibásico, não presente nos coronavírus encontrados no morcego e pangolim. Ou seja, a teoria mais aceita pelos cientistas é de que ocorreu nesses animais uma seleção natural para adquirir esse sítio antes da transmissão ao homem. Isso seria possível, pois há muitos tipos de coronavírus existentes em populações de animais de vida livre”, explica Hidasi.
Na visão do professor Dias, evidências apontam para o pangolim, entretanto há outros animais que poderiam ter sido hospedeiros intermediários, incluindo animais domésticos e silvestres. “Vários deles sabidamente se infectam e poderiam ter transmitido o SARS-CoV-2 a humanos”, afirma.
O fato é que, em 2012, quando ocorreu o surto de Síndrome Respiratória no Oriente Médio, causado pelo coronavírus MERS-CoV (Middle East respiratory syndrome-related coronavirus), a transmissão se deu de morcegos a camelídeos e, depois, para humanos. Dez anos antes, a Síndrome Respiratória Aguda Grave na China, causada pelo SARS-CoV-1, também tinha o morcego como reservatório, que a transmitiu a civetas (animais consumidos como fonte de proteínas) e das delas para os humanos.
“Dentre os 38 coronavírus conhecidos, 22 foram descobertos na China. Os coronavírus que têm capacidade de se ligar ao receptor ACE2 no homem [proteína presente no corpo humano, especialmente no pulmão, que atua como receptor do coronavírus] são os mais estudados, por causa do seu potencial zoonótico, e eles foram todos isolados em morcegos do gênero Rhinolophus sp., que têm distribuição cosmopolita [pode ser encontrado praticamente em qualquer lugar do mundo]”, afirma Hidasi.
A médica-veterinária explica que o sistema imune dessa espécie de morcego é diferenciado, por conta da sua adaptação para o voo, o que a torna ainda mais suscetível a diferentes vírus, quando comparada a outros mamíferos. Ao mesmo tempo, essa mesma capacidade de voo e migração favorece a disseminação do vírus.
Dias acrescenta que os morcegos são tão suscetíveis aos vírus quanto outros mamíferos. “Porém seu sistema imune é mais complacente, lidando de forma diferente com infecções virais e a resposta inflamatória”, diz o professor da USP.
“O histórico das epidemias por coronavírus, a ocorrência dos morcegos e a proximidade e relação entre possíveis hospedeiros, como animais sendo consumidos como alimento, e grande densidade populacional, facilitam a mutação viral e sua dispersão, seja por contato direto ou por fômites contaminados [qualquer objeto inanimado ou substância capaz de absorver, reter e transportar organismos contagiantes ou infecciosos de um indivíduo a outro]”, conclui a presidente da Abravas.
Para evitar tragédias anunciadas como a que estamos passando e mitigar futuras pandemias, o caminho seria proibir a venda de animais silvestres para o consumo humano como alimento? Para a CNAS, a falta de controle sanitário na produção dos alimentos de origem animal é o maior dos problemas, já que a manipulação correta, a cocção ou o congelamento de carnes exóticas pode eliminar ou inativar patógenos.
“Acreditamos que a promoção de campanhas de educação em saúde direcionada à produção e ao consumo de alimentos de origem animal seja uma boa conduta. Aliada, é claro, ao cumprimento da legislação, com a aquisição de animais silvestres procedentes de locais devidamente registrados e com controle sanitário adequado”, afirma a comissão.
Assim também pensa a presidente da Abravas. Ela explica que as condições insalubres às quais os animais são submetidos em mercados sem regulamentação, com diversas espécies (cães, galinhas, cobras, porcos, civetas) dividindo o mesmo espaço físico, em gaiolas pequenas, péssimas condições de higiene, com dieta deficiente, manipulados e abatidos em local sem controle higiênico-sanitário, acabam gerando estresse prolongado nos animais, o que leva à imunossupressão, predispondo-os ao contágio e transmissão viral e, consequentemente, aumentando a possibilidade do aparecimento de zoonoses e antropozoonoses.
“A criação em cativeiro, se realizada de acordo com as normas sanitárias e de bem-estar e supervisionada por um médico-veterinário capacitado, reduz ao mínimo a possibilidade de contágio”, afirma Hidasi.
Como medidas preventivas contra novas pandemias, o Dias defende o combate ao tráfico de animais selvagens, o aumento da seguridade alimentar, ou seja, o acesso à alimentação adequada e segura, e a melhoria do saneamento básico da população.
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês), especificamente em seus escritórios na Europa e Ásia, tem feito alertas diversos, desde o início da pandemia de covid-19, tem divulgado ativamente as práticas de higiene, inclusive com relação ao consumo de carne de animais selvagens.
“As pessoas não devem manipular, preparar, sacrificar, vender, ou consumir carne que se origina de animais selvagens, de gado doente ou que tenha morrido de causas desconhecidas” destaca a FAO. Ainda acrescenta que a carne crua de animais selvagens ou pratos crus, à base de sangue de animais selvagens, não devem ser consumidos. “Essas práticas expõem as pessoas a alto risco de infecções”, informa a entidade, que recomenda a adoção das boas práticas de higiene habitual, como lavar as mãos antes e depois de manipular ou alimentar o gado ou os pets, incluindo o manejo de carne de animais silvestres.
Para contribuir com a prevenção e o controle da propagação de coronavírus, a FAO ressalta que todas as ações devem ser coordenadas com o enfoque da Saúde Única, vinculadas a especialistas em saúde animal, humana e ambiental, como o médico-veterinário. A entidade reitera a necessidade de comunicação imediata ao serviço veterinário oficial e às autoridades de sanidade animal a respeito de qualquer morbidade ou mortalidade incomum dos animais.
Alinhada às autoridades sanitárias internacionais, a FAO reforça que, até o momento, não há evidências significativas da transmissão do novo coronavírus de animais para humanos, portanto, não há justificativa para tomar medidas que comprometam o bem-estar dos animais.
Desde a primeira manifestação global do novo coronavírus, a FAO colabora estrategicamente com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a OIE para ajudar os países-membros a identificar animais que possam hospedar esse vírus e reduzir os eventos de contágio humano.
“Se você está realizando pesquisas para determinar a epidemiologia da covid-19 e a participação de animais como reservatório de vírus ou hospedeiros intermediários, comunique a organização”, solicita a FAO, que supervisiona e compara informações detalhadas sobre a situação dos doentes em todo o mundo, além de coordenar atividades de prevenção, preparação e detecção de animais.
A CNAS acrescenta que é prematuro falar da transmissão da covid-19 entre animais e apontar quais espécies podem ou não se infectar com o novo coronavírus. O que já se sabe sobre as coronaviroses, catalogadas e estudadas antes mesmo dessa pandemia e que nada têm a ver com o SARS-CoV-2, é que são mais comuns em mamíferos e aves, segundo a presidente da Abravas. “Podem acometer grupos animais específicos, como cetáceos, quirópteros, felinos, caninos, humanos, ouriços, ungulados, podendo ocorrer transmissão entre espécies, porém, o fato de haver transmissão não, necessariamente, significa manifestação de doença”, diz Hidasi.
De qualquer forma, para toda doença, a CNAS recomenda seguir o protocolo de prevenção instituído, desde que se conheça o perfil epidemiológico da população, o patógeno e como ele causa alterações na saúde de animais e humanos. “Para alguns coronavírus das espécies domésticas já existem até vacinas para os animais, as quais fazem parte de protocolos preventivos”.
“A transmissão não necessariamente significa manifestação de doença”, complementa a presidente da Abravas. De qualquer forma, como velejamos em mares nunca dantes navegados, a presidente da Abravas recomenda as medidas sanitárias adequadas para a prevenção de doenças de uma forma geral: lavar as mãos regularmente, fornecer manejo adequado ao animal (temperatura, ventilação, iluminação, nutrição, recinto etc.), manter o ambiente que o animal frequenta sempre limpo e evitar contato direto do animal com pessoas imunocomprometidas. “O tratamento dos animais infectados deverá ser realizado de acordo com a espécie acometida e os sinais clínicos apresentados, sendo o médico-veterinário especializado nessas espécies o responsável por conduzir o caso”, alerta.
Esse tem sido o protocolo no caso da tigresa do zoológico do Bronx, em Nova York, nos Estados Unidos, que testou positivo para o novo coronavírus. Hidasi está em contato com os médicos-veterinários da instituição e relata que a tigresa e os outros felídeos acometidos (cinco tigres e três leões) receberam tratamento paliativo, conforme as necessidades. “Até o momento, foi relatado que os animais estão evoluindo bem, clinicamente, e todos os funcionários estão utilizando Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nos cuidados de todos os felídeos selvagens da instituição”, diz.
A médica-veterinária da Abravas explica que os felídeos apresentam um receptor homólogo ao ACE2 nos pulmões, assim como os humanos, implicando predisposição a desenvolver a doença se expostos ao vírus, mas nada que comprove que, uma vez doentes, são capazes de transmitir esse vírus ao homem.
Quais são os cuidados para quem cria jiboias, iguanas, papagaios, jabutis, entre outras espécies selvagens, como animais de estimação, seja em uma casa ou apartamento?
No Brasil, a criação legalizada de animais silvestres é prevista em lei. A importância de ter um animal com origem conhecida desde o nascimento garante a sanidade dele e de seus cuidadores. “O risco sanitário ocorre quando a origem do animal é desconhecida, quando não há assistência médico-veterinário periódica, nem ambiente e nutrição adequados, de acordo com as características biológicas da espécie”, alerta a CNAS.
A presidente da Abravas revela que os proprietários que adquirem animais silvestres comercializados legalmente recebem, em sua maioria, orientação adequada sobre o manejo dos animais e acompanhamento médico-veterinário.
“De forma geral, havendo conscientização dos tutores sobre a importância de adquirir animais silvestres de criadores legalizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de conhecer a biologia e o manejo da espécie, bem como orientação e acompanhamento veterinário especializado com check-ups periódicos, reduz-se o risco de ocorrência e disseminação de doenças infectocontagiosas”, tranquiliza Hidasi.
O risco, segundo a médica-veterinária de selvagens, está nos animais silvestres oriundos de tráfico, “pois normalmente foram expostos a condições insalubres e manejo incorreto, predispondo a manifestação de doenças diversas (zoonóticas ou não)”, complementa.
Para os profissionais que atuam nos serviços veterinários essenciais que recebem, atendem, reabilitam ou mantêm animais silvestres e exóticos, sejam em centros de triagem, zoológicos, aquários e criadouros ou mantenedouros de fauna similares, a CNAS recomenda que se mantenha a vigilância em saúde dos funcionários e oriente a utilização dos EPIs por todos. “A saúde do trabalhador também é uma função da Responsabilidade Técnica”, lembra a comissão.
Já a Abravas, publicou uma nota com 23 recomendações específicas aos médicos-veterinários de animais selvagens e pets não convencionais. O documento pode ser acessado no site da associação. Confira.
A Comissão Nacional de Animais Selvagens (CNAS) tem por propósito assessorar a administração do CFMV sobre o tema, em vista da diversidade da fauna de nosso país e da necessidade de mantê-la e valorizá-la. Confira o currículo resumido dos integrantes da Comissão.
Dra. Hilari Hidasi atua como médica-veterinária do Zoológico Municipal de Guarulhos (SP), desde 2012. Preside a Abravas, é doutora em Ciência Animal, com ênfase em ornitopatologia, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), onde também concluiu o mestrado e a graduação em Medicina Veterinária (2006). Tem também pós-graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens, pelo Instituto Qualittas.
Dr. Ricardo Augusto Dias é médico-veterinário formado na USP e pós-graduado em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses. Atualmente, é professor associado do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ-USP. É membro de comitês consultivos dos ministérios da Agricultura, Pecuária Abastecimento (Mapa) e do Meio Ambiente, além de integrar grupos de trabalho da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Trabalha com Epidemiologia, conservação da biodiversidade e zoonoses.
O Ministério da Saúde convocou 14 categorias de profissionais da saúde para integrar a força-tarefa de combate à disseminação do novo coronavírus e, entre elas, estão os médicos veterinários. Embora o trabalho desses especialistas seja mais lembrado pela população por sua atuação junto a animais de companhia, são mais de 80 áreas que contam com a prestação de serviços veterinários.
Além de serem responsáveis pelos animais, também trabalham com foco na saúde da população e na preservação do ambiente. Para explicar de que forma tudo isso acontece e ressaltar o papel fundamental da Medicina Veterinária no dia a dia das pessoas – como a qualidade dos produtos de origem animal, caso de carne, leite, ovos e mel, que chegam à mesa dos brasileiros – o Sistema CFMV/CRMVs preparou uma campanha de conscientização.
Realizada pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS) com o apoio de CRMVs e CFMV, a iniciativa tem como objetivo colocar em pauta os diferentes papéis exercidos por esses profissionais. A cada dia, um post apresentará as atribuições privativas de médicos veterinários e sua importância para a sociedade.
Hoje, quem faz a abordagem é o CRMV-RS, que lança um próximo tema a ser explicado amanhã pelo CRMV-BA.
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Em 1º de junho se comemora o Dia Mundial do Leite, o alimento mais consumido do mundo. Sua diversidade e notável valor nutricional permitem que ele seja processado e consumido em todas as culturas de diversas maneiras, seja no seu estado líquido original, em pó ou na forma de derivados como o queijo, o iogurte e a manteiga.
A data comemorativa foi definida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO (na sigla em inglês) como uma forma de reconhecer a importante contribuição do setor leiteiro para a sustentabilidade, o desenvolvimento econômico, o sustento e a nutrição mundiais.
Nesta data, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) destaca a importância desse produto de origem animal para a sociedade e enfatiza o papel do médico-veterinário e do zootecnista para a produção desse alimento.
Os dois profissionais trabalham juntos para garantir a produtividade, o bem-estar e a sustentabilidade da produção de leite no Brasil e no mundo.
Atuação do médico-veterinário e do zootecnista na cadeia produtiva do leite
O médico-veterinário Marne Portela Rêgo, gerente operacional de uma empresa do setor, explica: “A atuação do médico-veterinário e do zootecnista na cadeia produtiva do leite inicia-se no campo, junto ao produtor. É importante destacar as ações na assistência técnica, que hoje está exigindo do profissional o conhecimento de gestão e de suas ferramentas de controle para direcionar as ações de curto, médio e longo prazo”.
De acordo com o zootecnista João Ricardo Albanez, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG) e subsecretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, “o cenário vivenciado é de pandemia e as incertezas estão presentes. A sociedade concentra investimentos no sistema de saúde, buscando a preservação da vida e a manutenção das condições socioeconômicas. Neste momento, o abastecimento alimentar e a produção agropecuária foram considerados serviços essenciais pelos governos. Esses setores, além de assegurar o abastecimento, têm apresentado resultados positivos para a economia”, comenta Albanez.
Segundo Portela, a nutrição tem tido grande evolução com o trabalho de zootecnistas especializados em leite, ajustando as necessidades nutricionais do rebanho, e ao custo dos ingredientes ofertados no mercado. “Esse trabalho tem potencializado a produção e contribuído com a reprodução e sanidade do rebanho.
O médico-veterinário contextualiza o papel dos profissionais na cadeia produtiva do leite. “As indústrias, hoje, contam com funções de profissionais que ficam responsáveis pela aquisição do leite. Eles realizam o acompanhamento a partir do campo, através da atuação na política leiteira, na garantia de qualidade da matéria-prima, atendendo normas regulamentais oficiais (INs Mapa nº 76/77)”, detalha.
Há também, segundo Portela, o trabalho de equipes de qualidade das fábricas, passando por atuação em laboratórios internos de qualidade e na área de gestão das indústrias. “Neste segmento, a ação dos fiscais, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, garante a inocuidade dos produtos ofertados até o consumidor final. A assistência técnica de profissionais ligados à iniciativa privada e a órgãos de pesquisas é de fundamental importância para a evolução da cadeia produtiva do leite em nosso país. Em muitas regiões, a ausência total das ações das entidades governamentais é minimizada pela atuação destes profissionais, como nos laboratórios veterinários e indústrias de rações”, assinala.
Dados
Segundo a FAO, o Brasil está entre os cinco maiores produtores de leite do mundo, atrás apenas de União Europeia, Estados Unidos, Índia e China, e à frente de países como Rússia e Nova Zelândia.
O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), calculado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), registra uma estimativa de receita de R$ 73 bilhões, em 2020. Isso representa mais 8,6% em relação ao ano anterior. A pecuária bovina tem participação de 25% do VBP e o leite contribui com 12,5%.
Nesse aspecto, Albanez conta que deve ser considerado o árduo trabalho dos produtores rurais, neste momento de pandemia, para manter a complexa cadeia da produção do leite. “Esse esforço envolve, também, todos os profissionais, com ênfase para os zootecnistas, que não pararam e continuam trabalhando para que não falte o leite, essencial na alimentação da população”, pontua.
Os números se tornam ainda mais relevantes levando em consideração que os produtores familiares são responsáveis por cerca de 60% do leite produzido no Brasil. “Além disso, continua sendo um dos principais geradores de emprego e renda no campo, mesmo com a estagnação da produção, por conta da crise dos últimos anos, somada ao atual problema causado pela pandemia de covid-19”, destaca Portela.
Segundo a Abraleite, o país possui, só no Sistema de Inspeção Federal (SIF), 781 fábricas, 275 usinas de beneficiamento/cooperativas e 188 postos de resfriamento de leite, distribuídos nas diversas regiões do Brasil. Portela também esclarece o surgimento de diversas oportunidades no setor, nos últimos anos, principalmente relativas à fusões e aquisições de grandes players mundiais, que movimentam o setor e estimulam o aumento na demanda de leite para os próximos anos. “O grande potencial de consumo, não só do nosso país, mas também de toda a América do Sul, e a grande disponibilidade de áreas já utilizadas na produção de leite vêm atraindo essas movimentações corporativas”, avalia.
O médico-veterinário também ressalta o papel de destaque do Brasil na produção leiteira. “O Brasil é um país com potencial de crescimento no consumo de lácteos e com expectativas positivas na melhoria de produção animal. Esses fatores atrelados à característica de produção nacional, que é predominantemente formada por sistemas pouco intensivos, são características que estimulam o aperfeiçoamento do setor. O sucesso da atividade leiteira depende de vários fatores. Só investindo em uma cadeia produtiva organizada é possível enfrentar desafios a médio e a longo prazo e construir um futuro promissor neste segmento, que é umas das bases da economia do agronegócio brasileiro”, assegura Portela.
Benefícios do leite
O ser humano é o único mamífero que toma leite durante toda a sua vida. O leite materno, primeiro alimento fornecido, é extremamente importante para o crescimento e desenvolvimento orgânico e funcional. É rico em gorduras, vitaminas e minerais que são indispensáveis para o desenvolvimento do sistema imunológico.
O leite permanece ativo e presente na dieta do homem durante todo a sua vida, mesmo que em quantidades menores, se comparadas com o período da infância. No entanto, o consumo de produtos lácteos continua sendo fonte importante de cálcio, vitaminas, proteínas, potássio, aminoácidos e fósforo, tendo eficácia comprovada na prevenção de doenças como obesidade, insônia, artrose e osteoporose.
Portela explica a diversificada produção láctea. “Atualmente, o leite mais consumido no mundo é o de origem bovina, mas também se destacam os oriundos dos caprinos, ovinos e outras espécies que, em determinados locais, servem ao homem como fonte de nutrientes”, detalha.
“Neste 1° de junho, Dia Mundial do Leite, data criada pela FAO/ONU, a sociedade deve valorizar esse rico alimento e todos os envolvidos nesta cadeia produtiva”, conclama Albanez.
Diante da necessidade de integração entre o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), foi criado Grupo de Trabalho (GT) com o objetivo de mapear, analisar e sugerir a revisão ou a edição de legislação relacionada ao uso de animais em laboratórios nas atividades de ensino e pesquisa. Para organizar os trabalhos, o GT realizou sua primeira reunião na terça-feira (26) e agendou o próximo encontro para o dia 10 de junho.
O Concea é um órgão integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, responsável por formular as regras para a utilização humanitária de animais com finalidade de ensino ou pesquisa científica, assegurando tratamento digno e ético. O GT do CFMV conta quatro membros do Concea, inclusive sua coordenadora, a médica-veterinária Ekaterina Akimovna Botovchenco Rivera.
Bem-estar animal
Para propor diretrizes de regulamentação relacionadas ao bem-estar animal, o CFMV recriou a Comissão Nacional de Bem-Estar Animal (Cobea), que também deverá revisar e propor a atualização e harmonização da legislação sobre o tema. A comissão ainda deverá apresentar posicionamento técnico e analisar demandas e necessidades dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs).
Relacionamento político
Para assessorar a diretoria e a plenária, o CFMV recriou também a Câmara Técnica de Medicina Veterinária. Seu papel é político-institucional, propondo políticas de atuação profissional e regulamentações relacionadas ao ensino da Medicina Veterinária. O grupo tem, além disso, a missão de sugerir a formalização de parcerias com entidades públicas ou privadas, nacionais e internacionais, relacionadas à Medicina Veterinária.
Com as atividades universitárias suspensas, muitos Programas de Residência em Medicina Veterinária voltaram suas baterias ao combate à covid-19. O novo coronavírus entrou na pauta da formação dos profissionais, seja no atendimento e orientação à população, nas pesquisas ou na Atenção Básica e na Vigilância em Saúde.
“Na Atenção Primária à Saúde, os residentes têm a oportunidade de trabalhar com enfermeiros, psicólogos, fonoaudiólogos, educadores físicos, odontólogos, assistentes sociais. Podem aprender e mostrar o papel do médico-veterinário na saúde única, na melhoria da saúde integral, numa visão interprofissional” esclarece a médica-veterinária Débora Rochelly, tutora do Núcleo de Medicina Veterinária do programa de Residência Multiprofissional em Atenção Primária à Saúde (RMAPS), no Centro Universitário de Patos (Unifip).
BAHIA
Os médicos-veterinários dos Programas de Residência da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (Emevz) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) estão atuando em duas frentes durante a suspensão das atividades acadêmicas. Por telefone e WhatsApp, respondem dúvidas sobre a covid-19 e os animais de estimação, de segunda-feira a sexta, das 8h às 16h, pelo número (71) 3283-6736. No plantão telefônico, os residentes têm a supervisão de um preceptor e apoio das comissões regionais de Saúde Pública e de Bem-Estar Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia (CRMV-BA).
Ainda na Ufba, a equipe do Hospital de Medicina Veterinária Renato Renato Rodemburg de Medeiros Neto (Hospmev) está produzindo protetor facial (face shield) para residentes, técnicos e professores da unidade, que foi reaberta no dia 4 de maio. O excedente foi doado ao Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes/Ufba), mais conhecido como Hospital das Clínicas.
Já no curso de Medicina Veterinária da União Metropolitana de Educação e Cultura (Unime), do município de Lauro de Freitas, os professores disponibilizaram a página do instagram @veterinaria_unime para responder perguntas dos internautas sobre isolamento social, a relação entre a covid-19 e os animais entre outras.
DISTRITO FEDERAL
Na Universidade de Brasília (UnB), os alunos do Programa de Residência Médica-Veterinária que atuam no Hospital Veterinário (HVet) elaboraram um plano de contingência para que a retomada no atendimento do hospital, prevista para 15 de junho, ocorra sem que os profissionais sejam colocados em risco.
O plano foi elaborado de forma a conter instruções que também sirvam a clínicas e hospitais veterinários da capital. “Podemos oferecer essa consultoria gratuita a esses estabelecimentos, levando em consideração as particularidades físicas e o espaço de cada um”, explica Bryam Amorim Santana, médico-veterinário residente que participou do trabalho.
Ele lembra que a função do médico-veterinário não é só atender os animais, mas também está ligada à saúde pública. “É um aprendizado muito importante trabalhar no enfrentamento de uma crise de saúde pública. Precisamos ter ideia de como se faz um plano de contingência e como trabalhar para auxiliar a saúde humana”, diz.
O documento foi elaborado por residentes do segundo ano das seguintes áreas: patologias clínica e veterinária, doenças infecciosas e parasitárias, anestesiologia, anatomia patológica, laboratórios, clínicas médica e cirúrgica, de grandes animais e de animais silvestres.
PARAÍBA
Médicos-veterinários residentes do programa de Residência Multiprofissional em Atenção Primária à Saúde (RMAPS) estão atuando juntamente com outros profissionais de saúde no enfrentamento da pandemia nos municípios de Patos e Santa Luzia.
Suzanna Lins e Emmanuel Assis integram a equipe que presta orientação à população, dentro das Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Patos. Na Vigilância em Saúde, participam das barreiras sanitárias na rodoviária local, recepcionando o orientando passageiros sobre os cuidados de higiene e distanciamento social. Também integram outras ações da prefeitura para levar informação a quem frequenta o mercado público e o comércio local.
Em Santa Luzia, o residente Pedro da Silva também atua na UBS, na Vigilância em Saúde. Realiza o atendimento virtual (TeleSaúde), esclarecendo dúvidas da população sobre a covid-19, entre outras ações de educação em saúde.
RIO DE JANEIRO
Assim como na Ufba, médicos-veterinários do curso de Residência em Medicina Veterinária da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense (UFF) estão integrando um teleatendimento para esclarecer dúvidas sobre os impactos da covid-19 em animais domésticos e os cuidados a serem tomados durante o período de distanciamento social.
A iniciativa é realizada em parceria com o Departamento de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses, da Fundação Municipal de Saúde da Prefeitura de Niterói, onde fica a universidade. O atendimento dos residentes é feito pelo telefone (21) 2613-3246, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
SÃO PAULO
Estado com o maior número de casos de covid-19, São Paulo protagoniza várias iniciativas envolvendo residentes. Programas de residência em Medicina Veterinária da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMVA-Unesp, campus Araçatuba; FMVZ-Unesp, campus Botucatu; e FCAV-Unesp, em Jaboticabal), além da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) estão com equipes mobilizadas.
Os residentes da FMVA-Unesp estão atuando na Vigilância Epidemiológica no combate à covid-19, apoiando o registro e análise de dados da pandemia, e em atividades no Centro de Controle de Zoonoses. “Nossos residentes foram treinados a orientar os pacientes e são acompanhados pelos responsáveis técnicos”, afirma Alexandre Lima de Andrade, supervisor do Hospital Veterinário da FMVA-Unesp.
Entre as ações da FMVZ-Unesp, 32 residentes participam do Núcleo Interno de Regulação (NIR) do Hospital das Clínicas de Botucatu. Em parceria com enfermeiros e funcionários, fazem gerenciamento de leitos e regulação de vagas para o Ambulatório de Triagem Especial do setor de infectologia do HC. Além disso, em parceria com a Vigilância Sanitária, 12 médicos-veterinários residentes compõem as equipes de trabalho para orientar sobre medidas de prevenção para evitar a contaminação dos alimentos pelo coronavírus em mercados e pequenos comércios.
Membro do programa de residência da FCAV-Unesp, a professora Karina Paes Bürger, explica que a atuação dos médicos-veterinários residentes no Centro de Atendimento ao Coronavírus (CAC), na Atenção Básica e na Vigilância em Saúde estimula a integração e tem como objetivo fortalecer a capacidade de resposta dos serviços de saúde em Jaboticabal. “Esses profissionais desenvolvem atividades em toda a cadeia de ações de prevenção, laboratório, ambiente e orientação sobre higiene, uso de equipamentos de proteção, conhecimento sobre todas as formas de transmissibilidade e sobre virologia, informação epidemiológica e proteção à saúde”, ressalta.
Entre as ações da FMVZ-USP estão o convênio firmado com o Centro de Controle de Zoonoses e a integração ao núcleo do Hospital Universitário (HU) da USP para colaborar com o diagnóstico molecular da covid-19. “Realizamos a pesquisa de SARS-CoV-2 nas amostras recebidas de hospitais, contando com pesquisadores e alunos de pós-graduação”, afirma o coordenador Paulo Eduardo Brandão, professor do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, enfatizando que médicos-veterinários têm uma sólida formação em zoonoses e saúde pública, por isso são altamente capazes de prestar auxílio.
Os residentes da FMVZ-USP também abordam e aplicam questionários aos pacientes na entrada do HU; fazem compilação e atualização de dados para encaminhamento dos casos, assim como a intermediação dos casos suspeitos entre o HU e o Hospital das Clínicas (HC) para possível transferência. “Isso comprova que somos agentes de saúde. Temos docentes envolvidos em pesquisas, médicos-veterinários residentes participando em ações diretas no HU, ou seja, engajamento total”, diz o coordenador André Zoppa, diretor do Hospital Veterinário da instituição.
Saiba mais sobre a atuação dos residentes no enfrentamento à pandemia da covid-19: