Comissões do Sistema CFMV/CRMVs traçam plano de ação para combater fauna invasora em fórum
Reunidos em Brasília, médicos veterinários e zootecnistas dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária (Sistema CFMV/CRMVs) se comprometeram a atuar em busca de um maior controle das populações da fauna invasora no Brasil. A questão, considerada urgente pelos profissionais, foi debatida por representantes de 11 estados durante a realização do II Fórum das Comissões Nacional e Regionais de Animais Selvagens do Sistema CFMV/CRMVs, na sede do CFMV, entre os dias 6 e 8 de novembro.
Para o presidente da Comissão Nacional de Animais Selvagens (CNAS), Carlos Eduardo do Prado Saad, a falta de controle permitiu que as populações de espécies invasoras atingissem uma dimensão que dificulta o trabalho de controle. “O ideal é fazer um trabalho de prevenção, mas infelizmente algumas espécies já passaram dessa fase há muito tempo e viraram um problema muito sério, que é o caso do javali, que já alcançou praticamente todos os estados do Brasil”, descreve o zootecnista.
Mas Saad acredita que a mobilização de profissionais com os participantes do encontro realizado nesta semana em Brasília, possa colaborar com a diminuição do impacto negativo causado pelo crescimento das populações de espécies invasoras no país. “Acreditamos que, com o grupo de trabalho formado pelas comissões Federal e Regionais, nós possamos ao menos sugerir uma solução melhor para que, junto ao governo, consigamos diminuir esse impacto, que vem aumentando muito”, ressalta.
Durante o fórum, os participantes discutiram as mudanças necessárias na legislação relacionada ao controle de espécies invasoras, a mobilização integrada de profissionais que atuam na área e a correta aplicação dos métodos de controle populacional.
Este último tópico foi abordado no fórum pelo integrante da CNAS João Luiz Rossi Júnior, que falou sobre os métodos de controle indicados para cada tipo de espécie e de situação, e sobre a forma legal e ética de aplicá-los.
Apesar de necessários, ressalta Rossi, alguns desses métodos ainda são alvo de controvérsia para a população, que não compreende o impacto que essas espécies exóticas causam no ecossistema e na Saúde Única. Existe uma problemática maior para países em desenvolvimento em proteger os ecossistemas em relação à saúde pública, e os animais invasores acabam sendo veículo para a distribuição de algumas doenças”, alerta Rossi.
Geraldo Edson Rosa, integrante da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV), dedicou a sua palestra às zoonoses que podem ser transmitidas entre espécies nativas e invasoras, representando assim uma ameaça também à saúde humana. “De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre cada três doenças que acometem o homem, duas são zoonoses. Isso é gravíssimo”, apontou Rosa. “Através da notificação os médicos veterinários fazem um trabalho de prevenção extremamente importante”, constatou.
Impacto ambiental
O II Fórum das Comissões de Animais Selvagens do Sistema CFMV/CRMVs também contou com a presença da representante do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Graziele Oliveira Batista. Ela falou ao grupo sobre o impacto ambiental das espécies exóticas no mundo, e sobre as ações que têm sido tomadas no Brasil. “Temos buscado uma estratégia nacional nesse foco de prevenção e detecção precoce, uma resposta rápida ainda nos estágios iniciais da invasão”, alertou.
Em 2010, o tema foi abordado pela 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-10), realizada na cidade de Nagoya, Província de Aichi, Japão, e incluído no plano estratégico conhecido como Metas de Aichi. O programa estipula que até 2020 todas as espécies exóticas invasoras e seus vetores tenham sido identificadas e priorizadas, e que as espécies prioritárias tenham sido controladas ou erradicadas.
“A partir do momento em que a espécie é introduzida, ela ainda está em pequenos números, e esse é o melhor momento para buscar a detecção daqueles indivíduos, as áreas em que eles estão, para aí buscar os mecanismos de erradicação da espécie. Com o tempo, tudo fica mais difícil, e temos de buscar formas de contenção”, alertou Batista.
Se não controladas no início, as populações invasoras podem causar danos irreversíveis. As espécies invasoras, apontou a bióloga, são responsáveis por 50% das extinções de peixes no mundo. Os impactos sobre ecossistemas causados por esse desequilíbrio são a causa de 38% de toda a perda de espécies animais no globo.
Avaliação
A troca de informações do fórum foi recebida de forma positiva pelos participantes do evento. “Tem sido muito produtivo. Estamos conseguindo juntar várias informações, e estamos prontos para assumir uma responsabilidade junto ao CFMV para emanar todas as informações do regional”, avaliou Nazaré Fonseca de Souza, conselheira do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Pará (CRMV-PA).
O conhecimento compartilhado no evento, ressaltam os representantes presentes no encontro, deve ser promovido pelos Conselhos Regionais junto aos médicos veterinários, zootecnistas e à sociedade. “Às vezes essa informação não é bem conhecida pelos profissionais”, ressalta Júlia de Santoucy, da Câmara técnica de animais silvestres e meio ambiente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Distrito Federal (CRMV-DF).
Carlos Frederico Grubhofer, tesoureiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Paraná (CRMV-PR), acredita que o papel dos Conselhos Federal e Regionais é despertar o interesse dos profissionais. “Ainda precisamos trazer mais gente para o debate”, enfatiza o zootecnista, que também ressalta o papel de encontros como o Fórum, promovido pelo Sistema CFMV/CRMVs para mudar esse quadro.
“Um dos objetivos do Conselho do Paraná é atrair mais profissionais e atuar junto a outras profissões, para fazer um trabalho mais amplo sobre esse assunto, que é extremamente importante”, salienta Grubhofer.
Fonte CFMV