Mês do cachorro louco: entenda por que agosto tem essa fama
Agosto é conhecido como o mês do cachorro louco. Mas, se você pensa que a expressão é uma daquelas “lendas urbanas”, entenda por que essa má fama surgiu e o que levou autoridades em saúde no mundo a aproveitar o período para a realização de campanhas de imunização contra a raiva canina. O Conselho Regional de Medicina Veterinária da Paraíba (CRMV-PB) faz um alerta sobre a doença e os cuidados que se deve ter com humanos e com os animais.
A médica-veterinária Camila Ingrid explica que em muitos lugares, em agosto as condições climáticas favorecem a entrada das fêmeas no cio, como é o caso do Brasil. As temperaturas mais baixas, os dias mais curtos e a umidade do ar reduzida podem fazer com que muitas cadelas entrem nesta fase do ciclo ao mesmo tempo. Com isso, os machos apresentam comportamentos mais agressivos e podem até brigar uns com os outros na disputa pela fêmea para acasalar.
Essa teoria não é comprovada cientificamente, mas foi o que levou autoridades a instituírem campanhas de vacinação contra a raiva nesse período. Em meio às brigas pela atenção de suas pretendentes, um animal que estivesse infectado pela doença acabava transmitindo-a para seu opositor, aumentando a disseminação da enfermidade neste mês.
Entenda a raiva – De acordo com a médica-veterinária Camila Ingrid, a raiva é uma doença infecciosa, aguda e mortal, causada pelo vírus do gênero Lyssavirus. Esse vírus é encontrado em morcegos, que podem contaminar animais silvestres, de produção e pets tanto por mordidas quanto por se tornarem presas (cães e gatos podem comer morcegos). “Mesmo com poucos casos registrados nos últimos anos, essa é uma doença muito perigosa, pois causa alterações neurológicas, musculares, sistêmicas (febre e salivação) e leva à morte em pouco tempo. A transmissão ocorre principalmente através de mordidas, contato com a saliva do animal infectado”, explicou.
Uma vez contaminados, a médica veterinária explica que os animais ficam babando, atacando sem reconhecer as pessoas, em “estado de loucura”, pois a raiva compromete a parte neurológica, gerando agressividade. “Também é sintoma da raiva a intolerância à luz, e não ingestão de água (fotofobia e hidrofobia), levando o animal a óbito em no máximo 10 dias com agravamento desses sintomas”, observou.
Por estarem em contato direto com os humanos, cães e gatos são os principais transmissores da raiva para tutores e até pessoas que não têm pets em casa, mas entram em contato com animais infectados. “Essa é uma doença perigosa e a melhor forma de prevenção é a vacinação dos animais. Ao fazer isso, é criada uma barreira imunológica que protege os seres humanos de forma indireta”, afirmou, lembrando que a castração também reduz a agressividade e os conflitos entre animais.
Em humanos – Em humanos, a letalidade dessa doença também é alta, chegando a praticamente a 100% dos infectados. Nos casos raros das pessoas que sobrevivem à raiva, as sequelas são paralisia, surdez e cegueira. O tratamento em humanos é para evitar que o vírus chegue ao sistema nervoso central.
Segundo o Ministério da Saúde, de 2010 a 2022 foram registrados 45 casos de raiva humana no Brasil, cinco deles entre janeiro e outubro de 2022. No primeiro semestre desse, pelo menos duas pessoas morreram por raiva no Brasil. Em nenhum dos casos a transmissão foi causada por cães, outros mamíferos.
Entre os sintomas da raiva em pessoas estão: agressividade, anorexia, ansiedade, apatia, convulsões, desmaios, desorientação, espasmos musculares, falta de coordenação motora, febre, náuseas e vômitos, paralisia e salivação em excesso.
Vacinação – O protocolo vacinal em cães pode começar a partir dos 90 dias de vida, e a revacinação deve ser realizada anualmente. São vacinas distribuídas pelo governo gratuitamente e aplicadas da mesma forma. Também pode ser aplicada por veterinários de maneira privada em consultórios e clínicas.