Médica Veterinária fala sobre Oncologia Veterinária
24 de outubro de 2016
Durante o mês de outubro há uma mobilização através da Campanha Outubro Rosa sobre os riscos de câncer de mama nas mulheres e também serve como alerta para os animais. Estima-se que a incidência de câncer de mama em cadelas seja de 45%, e que aproximadamente 30% das gatas sejam diagnosticadas com a doença.
Para entender mais sobre o assunto conversamos com a Méd. Vet. Felisbina Queiroga, que é Doutora em Clínicas Veterinárias, Mestre em Oncologia Veterinária e Professora da Universidade do Trás-os-Montes e Alto Douro UTAD, Portugal.
ASCOM/CRMVPB – O que é a Oncologia Veterinária?
Dra. Felisbina Queiroga – A Oncologia Veterinária é o ramo da Ciência Veterinária que estuda as doenças oncológicas em animais no geral, animais de produção e animais de companhia, embora de facto a oncologia veterinária tenha mais “foco” nos animais de companhia e também nas espécies, nos equinos. Os outros animais, como os de produção, não vivem tempo suficiente para desenvolver doença oncológica que é uma doença maioritariamente intrínseca de animais geriátricos.
ASCOM/CRMVPB – Quem pode ser oncologista veterinário é o Médico Veterinário?
Dra. Felisbina Queiroga – Sim, o médico veterinário é o profissional de saúde que está habilitado a tratar problemas oncológicos entre outras manifestações de doenças. Todo médico veterinário generalista (clínico) após terminar a sua formação básica é capaz de fazer o diagnóstico da neoplasia, nem todos conseguirão estar aptos a saber qual o melhor tratamento ou o melhor acesso cirúrgico para determinada situação, isto porque a medicina veterinária é tão abrangente, que é difícil um médico veterinário generalista conseguir abordar todas as áreas da medicina veterinária, todos os domínios, todas as especialidades. O médico veterinário habilitado a tratar problemas oncológicos é o médico veterinário que ao longo da sua vida profissional já fez formação nesta área e vai adquirindo conhecimentos adicionais pra além do que foi a sua formação inicial na faculdade.
ASCOM/CRMVPB – O câncer de mama incide geralmente em cadelas e gatas?
Dra. Felisbina Queiroga – Na cadela e na gata sim. Quer na América do Sul, quer na Europa ou no Sul da Europa existe culturalmente uma certa resistência a fazer a castração dos animais em idades precoces. Para que a castração seja efetiva e previna o desenvolvimento do tumor na idade adulta precisa ser feita antes do primeiro cio ou, preferencialmente, para evitar outros tipos de problemas medicinais, logo depois do primeiro cio. Como isso não é efetuado os animais sofrem mutações que são devidas a ação dos próprios hormônios que muitos proprietários, para evitar o cio, também administram progestogênios sintéticos, que são altamente associados à presença de neoplasias malignas.
ASCOM/CRMVPB – Qual o tratamento adequado?
Dra. Felisbina Queiroga- O mais importante poderia dizer que é a identificação por parte do proprietário precocemente de qualquer vulto (volume) que exista ao nível de qualquer uma das glândulas mamárias, desde pequenos vultos do tamanho de um grão de arroz até um vulto do tamanho de uma ervilha deve o mais precocemente possível procurar o médico veterinário para saber se trata ou não de um tumor de mama, e no caso de ser uma neoplasia de mama, então remover apenas essa neoplasia ou remover a mama, depende da vontade do cirurgião.
Em termos de tratamento no que diz respeito especificamente aos tumores de mama, nem sempre precisamos fazer tratamento após a cirurgia, depende do grau da agressividade do tumor e depende também se as margens do tumor estão limpas ou não, aí é importante que a cirurgia seja feita precocemente. No caso de precisar de tratamento podermos recorrer a tratamentos de quimioterapia, quer para os tumores de mama, quer para outros tipos de tumores, que afetam também o cão e o gato, por que a oncologia veterinária não atende apenas tumores de mama na cadela e na gata existem alguns tumores que afetam os cães em geral e os gatos . Alguns tumores o único tratamento que temos é a quimioterapia, que é o caso do linfoma. Em outros tumores como certos tumores de pele, podemos também precisar de fazer quimioterapia após a cirurgia, para isso utilizamos o mesmo tipo do princípio ativo da medicina humana. Precisamos muitas vezes manipular para conseguir uma dosagem apropriada ao peso do nosso animal e precisamos também durante o tratamento monitorar o animal ou adicionar substâncias que não são antineoplásico mas que são substâncias ativas, que evitam efeitos secundários dessa quimioterapia.
Assessoria de Comunicação do CRMV/PB