Perigos do WhatsApp para profissionais de saúde
A pedido do CRMV-GO, o advogado Giuliano Miotto alerta sobre os riscos do mau uso dessa ferramenta de comunicação
Por Giuliano F. Miotto, advogado.
Tenho visto inúmeros médicos veterinários, clínicas e empresas sofrerem ações de indenização por causa de situações envolvendo animais de estimação e outros. Em muitos desses casos, o WhatsApp tem sido utilizado pelos clientes como prova de que teria havido, ou não, uma ação ou omissão do profissional. Há notícias, até mesmo, de profissionais que foram demitidos de seus empregos por causa do mau uso dessa ferramenta de comunicação ou que a utilizaram como base para ações trabalhistas. Enfim, o fato é que o WhatsApp se transformou em uma das principais ferramentas de comunicação entre as pessoas e, por causa disso, também em um importante elemento de prova judicial.
Isto acende o sinal de alerta, especialmente para os profissionais que atuam no ramo de “pets”, tendo em vista que algumas pessoas parecem se ofender mais com a morte de seu animal de estimação, do que a morte de parentes. Essa é uma área muito sensível da atuação dos médicos veterinários e, como temos acompanhado em alguns casos, o mau uso do WhatsApp tem complicado ainda mais a vida dos mesmos. Portanto, gostaria de listar três pequenas dicas que podem ajudar bastante a evitar a formação de provas contra si:
1. Evite a prescrição de remédios ou tratamentos pelo WhatsApp – um médico estava prestes a fazer uma viagem e foi chamado com urgência por uma cliente, cujo cachorro estava tendo convulsões e muito doente, à beira da morte. Todo educado ele foi atender o animal, solicitou exame de sangue e não foi possível fazer um diagnóstico mais aprofundado e, na pressa, ainda prescreveu pelo WhatsApp um remédio que ajudava a melhorar a condição do cachorro, mas não resolvia de todo a situação. Como resultado, o animal veio a óbito, a pessoa se sentiu muito ofendida porque o médico veterinário viajou e não ficou cuidando do seu bichinho. Logo entrou com uma ação de indenização pedindo uma fortuna e boa parte das provas utilizadas eram as conversas que tinham tido via aplicativo de mensagens;
2. Preste muita atenção no que vai responder ao cliente – nessa mesma história, o médico veterinário, constrangido pelas ameaças e lamentações do cliente, enviou uma mensagem pedindo desculpas e chegou a dizer que poderia ter errado no diagnóstico, tendo em vista a pressa de viajar. Claro que a pessoa pegou essa frase fora de contexto e alegou na ação que o profissional estaria confessando um erro na prestação do serviço. Felizmente, foi possível provar ao juiz que o profissional não havia confessado nada e a ação foi julgada improcedente. Mas, quantos profissionais não têm sido condenados em juízo em situações parecidas?
3. Não dê opinião sobre animais não atendidos – Em outro caso, de uma clínica veterinária, uma família levou uma cadela que havia acabado de dar à luz, para fazer um tratamento e cirurgia em face de uma doença contagiosa. A cadela veio a óbito. Embora alertados, eles não levaram os filhotes para verificar se haviam sido contaminados e os mesmos vieram a óbito também. Como a médica veterinária que atendeu o caso, enviou mensagens perguntando sobre a situação dos filhotes e ainda sugerindo que determinados medicamentos ou tratamentos fossem aplicados, a família usou isso como prova e entrou com uma ação de indenização.
Enfim, essas são pequenas dicas sobre o uso de WhatsApp e sobre a necessidade de se ter cuidado com o que se escreve e como se interage com os clientes, pois absolutamente tudo poderá ser usado contra você na justiça. Todo cuidado é pouco.
CRMV/GO (matéria acessada em 13/02/17)