Abril Verde: Médicos veterinários, como prevenir acidentes de trabalho?
De acordo com ranking de periculosidade ocupacional elaborado pela Business Insider com base no Occupational Information Network (banco de dados oficial de profissões dos Estados Unidos) e considerando os fatores: exposição a contaminação, a doenças infecciosas, a condições perigosas de trabalho, a radiação, riscos de ferimentos e o período em que o profissional passa sentado, os médicos veterinários surgem como a quarta atividade de maior risco, “perdendo” apenas para os dentistas, aeromoças e comissários de bordo e anestesiologistas. O mesmo estudo aponta também os três principais riscos da profissão: exposição a doenças/infecções, risco de ferimentos e exposição a contaminação.
Infelizmente, no Brasil, não há dados disponíveis e confiáveis para dizer quais os principais acidentes acometidos aos médicos veterinários nos últimos anos. Para se ter uma ideia, no estado de São Paulo, entre 2006 a 2016, foram notificados no Sistema de Nacional de Agravos de Notificação (SINAN NET) 63 acidentes graves dos quais 47 ocorridos com médicos veterinários; 6 com zootecnistas e 10 com enfermeiro veterinário.
Da mesma forma, os acidentes do trabalho (típicos, de trajeto e doença do trabalho) comunicados à Previdência Social também são subnotificados. De acordo com o Anuário Estatístico de Acidente do Trabalho (AEAT) referente ao período 2012 a 2014, foram comunicados 122 acidentes típicos, 41 de trajeto e apenas uma doença relacionada com o trabalho quando é pesquisado o CNAE 7500-1/00 Atividades Veterinárias.
Um estudo australiano de 2005, referido em artigo realizado no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa em 2014, menciona que 66% dos acidentes ocorridos em atividades veterinárias são devidos a trauma direto com os animais, principalmente quando ele é imobilizado para realização de exames físico e de diagnóstico. Este risco é 10 vezes maior quando se trata de animais de grande porte. Neste artigo são também consideradas as mordeduras e arranhões que podem ser graves em alguns casos, além dos acidentes com material perfurocortante. Os acidentes de trajeto também são citados, sobretudo quando o profissional se desloca para a empresa do cliente.
Para o médico do trabalho da Divisão Técnica de Vigilância Sanitária do Trabalho (SES/SP), Marcelo Pustiglione e para a professora titular da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), Silvana Tognini, a melhor maneira do veterinário prevenir acidentes de trabalho é por meio de medidas específicas de proteção e de educação permanente. “Para tanto se faz necessária à implantação e implementação de programas customizados para cada área de atuação e a inclusão deste olhar prevencionista na formação acadêmica dos profissionais da área. Em resumo, a prevenção deve ser feita por meio de métodos exaustivos de precauções padrão, biossegurança, capacitações, elaborações e sanções de legislações específicas, dentre outras ações que se fizerem necessárias”, dizem os doutores.
Em relação aos médicos veterinários que trabalham com eutanásia, abates ou situações sob estresse; as pesquisas indicam que lidar com a vida e a morte pode desenvolver nos profissionais transtornos mentais. Eles vão desde doenças somáticas às psíquicas, como a síndrome depressiva, a síndrome de Burnout, entre outras.
Um bom começo para a precaução de problemas é a conscientização do próprio profissional à inclusão de medidas de proteção e prevenção em seu comportamento e atos no cotidiano. “Empregadores e gestores também não devem poupar esforços e nem regular recursos para oferecer ambientes, postos e processos de trabalho seguros e saudáveis. É fundamental a participação de especialistas em segurança e saúde no trabalho (Médicos, Enfermeiros, Engenheiros e Técnicos) para a elaboração e implementação dos programas necessários”, alertam Silvana Tognini e Marcelo Pustiglione.
Abril Verde
O dia 7 de abril é o Dia Mundial da Saúde e o dia 28 é o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes do Trabalho. Portanto, abril foi escolhido para ser o mês da prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.
Essa mobilização mensal se chama Abril Verde e tem o objetivo de reduzir os acidentes de trabalho e os agravos à saúde do trabalhador, e envolver a sociedade, os órgãos de governos, empresas, entidades de classe, associações e federações para prevenir e alertar sobre os problemas que ocorrem no dia a dia do empregado.
O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) apoia o movimento. Defender essa iniciativa é fazer mais por um trabalho saudável e sem acidentes. Somente com o envolvimento, com a troca de informações, é que se pode favorecer uma cultura de prevenção à vida e à saúde no ambiente de trabalho.
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CFMV (matéria acessada em 17/04/17)